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Uma opinião (não tão popular) sobre o ENEM


Muitas pessoas perguntam qual a minha opinião sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Fui professor de um curso pré-vestibular entre 2010-2013 e prestei o exame uma vez, anos depois do meu ensino médio. Por não ser um grande interessado no tema, restringia-me a compartilhar uma ou outra impressão, mas não pude deixar de notar algo: qualquer crítica que eu fazia ao exame gerava uma série de reações na minha DM. Criticar o exame parece ser um tabu para muita gente. Aproveitarei este post para desenvolver um pouco melhor algumas percepções pessoais para além de um ou outro comentário isolado.


A prova do ENEM é longa e cansativa, repleta de contextualizações não raramente enfadonhas e desnecessárias. Via de regra a prova não deve ser lida com atenção como um texto usual, mas a partir do comando e indo ao contexto apenas se necessário. Se você fizer algo muito diferente disso, você não chega ao final da prova no tempo estabelecido. Até aí tudo bem, o problema é que o nível das questões é raso. A edição que fiz (2014) teve uma prova de matemática com nível de ensino fundamental.


Alguns dizem que as questões são rasas para a prova ser acessível. O problema é que o baixo nível de cobrança é a principal referência das redes de ensino, pública ou privada, a levar o aluno até o estrito nível da prova. Não à toa, um aluno brasileiro típico encontra uma prova do ITA/IME e não reconhece o conteúdo visto em sala de aula. Do que vejo e ouço, não tenho receio de afirmar que muitos professores têm sérias dificuldades para lidar com questões desses concursos de nível médio.


Muitos colegas com quem converso, professores universitários, não enxergam mais o ensino médio como capaz de oferecer uma base de conhecimentos sólida para enfrentar um ensino universitário de alto nível. Não se cobra mais matrizes, determinantes - fundamentos de álgebra linear - ou teoria de funções. Para mitigar o problema inventa-se uma disciplina de pré-cálculo para oferecer não mais do que a escola de décadas atrás ensinava.


O discurso é de integração entre ciências - física, química e biologia não são mais disciplinas independentes. A execução pode ser resumida em questões de física, química e biologia abaixo de um mesmo guarda-chuva de "Ciências da Natureza e sua tecnologias" (poupá-los-ei de comentários a respeito da nomenclatura utilizada). Isso, aliás não é coisa rara no Brasil, onde o ginásio vira fundamental II, a 5a série vira 6o anos. O que não muda, no final do dia, é o Brasil permanecer nas últimas posições dos exames internacionais.

As universidades federais sofreram pressões orçamentárias do MEC para adotar o ENEM entre 2010-2013, isso é fato bem documentado. Dissipou-se então a pluralidade de estilos de provas que existiam antes e o foco de milhões de estudantes concentrou-se em um único concurso. Impõe-se um modelo único onde existira uma diversidade de modelos. Felizmente, ainda resta alguma diversidade nesse contexto com provas como a da FUVEST, Unicamp e outras faculdades e institutos que mantêm seus processos de admissão independentes.


Para encerrar, isso que eu expresso aqui não é comumente expresso por dois motivos. Quem está nas escolas e cursinhos na maioria das vezes não está em posição de discutir o modelo, mas de ajudar o aluno a preparar-se ao modelo proposto. Quem propõe o modelo (um grupo de burocratas ligados à Brasília), por sua vez, o defende por serem os pais da criança - e raros são os pais que hoje em dia reconhecem os defeitos de seus filhos.


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