Durante o meu segundo ano do ensino médio, um professor de filosofia perguntou à turma quem gostaria de ser professor quando adulto. De uma sala com cerca de 60 alunos, apenas eu e outra pessoa levantamos a mão. Essa cena revela como poucos jovens veem o magistério como uma escolha desejável.
Cada um de nós tem histórias sobre como professores influenciaram nossas vidas. No meu caso, poderia citar a influência que recebi da minha conselheira do ITA, a professora Lara, que orientou minha IC, meu trabalho de graduação e doutorado. Ela foi uma referência de dedicação ao ensino no ambiente universitário ao mesmo tempo que mantém altos níveis de publicações científicas.
Voltando àquele dia no ensino médio. Alunos com boa formação acadêmica nem sempre buscam ser professores. Os cursos de licenciatura geralmente têm notas de admissão muito baixas e pouquíssima competição por vagas. Como consequência, muitas vezes selecionamos os alunos menos preparados de uma geração para serem os professores da próxima. Ouço tristes histórias sobre a atual situação de muitas universidades públicas no nosso país.
Estudiosos de educação, como a profa. Inger Enkvist, apontam a qualidade dos professores como um fator crucial para a qualidade do ensino de um país. Finlândia e Singapura são exemplos de países nos quais a carreira docente é bastante concorrida e os índices educacionais são muito melhores que os brasileiros.
Tenho ótimas lembranças dos professores que tive no ITA que também se formaram no instituto, muitos deles premiados com distinções acadêmicas. Acabei me tornando um exemplo disso, fui um dos melhores alunos da minha turma, recebendo a distinção Magna Cum Laude e uma medalha da Academia Militar de Engenharia, ofertada aos alunos com melhores médias gerais de cada turma de formandos.
A situação que pude viver e proporciono aos meus estudantes é, infelizmente, a exceção. Em muitos lugares, as escolas não conseguem oferecer um bom ensino pela baixa qualidade dos docentes. É uma realidade dura, mas seria inocência crer que, mantendo um dos piores níveis educacionais por décadas, não acabaria chegando a esse estado de coisas. É preciso quebrar esse ciclo. Atrair bons estudantes para serem professores, acredito, é uma condição necessária para melhorar nosso sistema educacional. Caso contrário, continuaremos a ser um dos países com os piores níveis educacionais, selecionando os alunos mais adequado para manter esse status quo.
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